Começou a recolher as coisas do quarto. Gavetas, armários, caixas de papelão. A trilha sonora ao fundo era gypsy kings, que emendou sem querer num outro som que ouvia. Cadernos antigos, chaves de outras moradias, papéizinhos com escritos - Caramba, tenho um molho de chaves das casas onde vivi - pensou ela. Será que abrirei de novo as portas dessas casas? Foi abrindo gavetas e encontrando uma multidão de lembranças, de poemas, desenhos, lágrimas e um sorrisinho foi se abrindo no peito. Não é possível saber de si sem saber dos outros, mais um pensamento que a invadiu. Bilhetes de um amor antigo a fez pensar que os bons encontros deixam rastros dignos de se recuperar - Quanta coisa bonita escrita aqui - disse a si mesma. Sentiu vontade de escrever aos amores antigos que aqueles bilhetinhos dariam um livrinho piegas e apaixonante. Deu vontade de agradecer a vida por viver esses encontros. Ela agora está enroscada em um amor que não percebe bilhetinhos, ele esqueceu de novo o último que ela escreveu pra ele. Ficou um pouco murmuriada com isso, mas depois entendeu que os bilhetes desse amor são diferentes, escritos em outro tipo de papel. Ela ainda está pra ver se gosta. Parece que sim, estranha que sim, se ressabia se não. Mas será que tem que saber assim sabendo de tudo das coisas? O que remexeu ela foi encontrar no fundo do armário um amor engarrafado. Foto dum outro tempo, presa numa garrafinha. Sorriu e pensou: Isso só sai daqui quebrando. Ainda não encaixotou o amor engarrafado, está lá no armário esperando a hora certa de sair, o lugarzinho certo em suas caixas cheia de..."Cajas llenas de", é o nome do poema que conheceu através das caixas cheias de...amigas. Que dia bonito foi aquele, lembrou que queria escrever sobre aquele dia, mas precisava cuidar das suas próprias caixas cheias de...mudanças!