domingo, 25 de setembro de 2011

Esse vento é tão gelado pra mim,
descasca a força da minha pele.
É bem mentira se eu disser que espero ansiosa a morte do outono,
que eu não vejo a hora dos acordes ficaram mais harmônicos,
as folhas das árvores mais verdes,
meu rosto mais suave,
é bem mentira.
Esse vento congela até minha esperança.


Se elas me visitarem de novo essa noite,
juro que terei que colocar sal em volta da minha casa.
Se silvia, Ana, Clarice, Cecília, Cora e todas essas bruxas se aproximarem novamente,
eu corro um sério risco de voar com elas.


Quando eu já não puder sorrir com lealdade,
nem cortar as frutas com esperança,
por favor, tire a poeira dos meus armários,
desenterre os brotos adormecidos em meu estômago,
cante uma canção comigo
e me leve para a fogueira mais próxima.


Almas recortadas como a minha,
não suportam ver ninguém inteiro.

Como disse a mulher poeta...
"Na dor, até a noite as estradas são claras"



Hoje eu acordei pensando...
e aí essa música me atravessou a alma. É por isso que ela está aqui...



Cansei de tanto procurar
Cansei de não achar
Cansei de tanto encontrar
Cansei de me perder

Hoje eu quero somente esquecer
Quero o corpo sem qualquer querer
Tenhos os olhos tão cansados de te ver
Na memória, no sonho e em vão

Não sei pra onde vou
Não sei
Se vou ou vou ficar
Pensei, não quero mais pensar
Cansei de esperar
Agora nem sei mais o que querer
E a noite não tarda a nascer
Descansa coração e bate em paz

Descansa Coração - Nara Leão

http://www.youtube.com/watch?v=Z_o9ZkSqzMo&feature=player_embedded#!

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Tem um holocausto na minha garganta,

não sei nem pra quem falar e nem quem ouvir.

Tô demasiado irônica com quem não devia,

e sinto que garimpo mais e mais a solidão.

Estou num aterrorizante encontro comigo mesma.

Uma dor, nunca vem só, e isso parece ser a coisa mais sábia dos últimos tempos.

Será que eu vou virar amargor? Essa palavra existe?

Como faço pra cortar meus cabelos? Não tô achando a tesoura.

E mais que isso, nem com a chavinha ensanguentada nas mãos eu estou...

Faz tempo que eu abri essa porta. Esse sangue já coagulou.

Já recolhi ossos, já limpei, já dancei com esses ossos todos.

Meus muros não são mais de tijolos da infância,

hoje eles são permeáveis demais, qualquer poeirinha maldita consegue olhar direto nos meus olhos.

A cada mil miados dos meus gatos saem mil lágrimas da minha alma.

E olha, vou te dizer uma coisa, esses bichos de quatro patas correm mesmo atrás de mim.

Ao invés de correr com eles, tô quase quase correndo é deles.


terça-feira, 20 de setembro de 2011

Profundidades...


Nada posso fazer a não ser por mim.

O que eu me fiz hoje, depois de tanta suposta beleza?

Migalhas de lembranças, de sonhos, de desejo, de trocas e descobertas, estão por aí, pelo quarto, pela sala, pela cozinha, nos meus lençóis, nas ruas da cidade, nos bares, nas feiras, pra todo lado.

Preciso ser passarinho pra recolher isso e fazer um ninho. Um lugar pra eu dormir e nascer de novo.

Tenho tanta coisa por dizer, por fazer, mas estou invadida por indignações. Hoje eu queria que o “se” da nossa história existisse. Tô escura, não enxergo nada além dos pedacinhos esparramados do que eu sou. Peguem pra mim por favor, peço-lhes ajuda.



Corte o meu cabelo,

recomponha meu corpo,

ilumine minhas idéias,

conta como eu sou.

Pinta minhas unhas,

coloque um anel no meu dedo,

me vista um belo vestido de flores,

me tira pra dançar,

me passe um batom,

espirra um pouquinho de perfume, vai.

Tira uma foto de mim,

me conta se eu sou bonita,

se tenho leveza,

boas idéias,

esperanças e coragem.

Fala tudo se for verdade.

Arruma minha maquiagem,

diz se meus olhos são profundos,

se meu sorriso é bonito.

Vai tirando dos meus ombros essa montanha de covardia.

Esconde um pouquinho das tristes marcas que eu me faço.


Imagem: Abbas Kiarostami-From Trees and crows 2006

sábado, 17 de setembro de 2011

Bá!

Puxa vida, será que é muito ruim querer viver esquecimentos de coisas odiosas?

Tem dias que eu fico pensando no que eu faço de tão ruim e esquisito que pode gerar num outro aí, qualquer coisa de indiferença e afastamento. Sabe, que a vida é e tá difícil todo mundo sabe um pouco. A gente tem que fazer coisas pra ficar alegre, pra ficar bonito, pra ficar legal. Minha amiga me disse que não aguenta mais críticas do existente. Em parte, eu também não. Principalmente quando elas só servem de boicote áquilo que outras pessoas estão fazendo para sentirem-se bem numa vida sequestrada de violências. Sabe, dá pra ser um pouco leve?

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Hoje eu estava pensando em quantas vezes eu digo "ai que absurdo" durante o dia. Saio de casa, olho pro trânsito e: "ai que absurdo". Vou pro trabalho, escuto alguns absurdos e outras coisinhas e: "ai que absurdo". Ando pelas ruas, vejo as publicidades e: "ai que absurdo". Vejo um panfleto que incita à violência contra a diversidade sexual e: "ai que absurdo". Volto pra casa, ligo a tv por alguns minutos durante o jornal daquela emissorazinha caluniosa e: "ai que absurdo". Resolvo ir para um bar, tomar uma cerveja, fumar um cigarro e: vai lá pra fora fumar! e: "ai que absurdo". Vou no mercado, vejo os preços e os produtos agrointoxicados e: "ai que absurdo". Vou amar, e...: "ai que absurdo". Ando por aí, procuro uma praça para sentar e curtir uma bobagem pessoal qualquer, quando os olhos de alguém diz: "ai que absurdo". Ainda voltando pra casa vejo a guarda municipal, a polícia militar e homens milico exibindo armas em sua cintura para tomar um café na padaria e: "ai que absurdo". Vou numa festa e a entrada é 10,00 e a cerveja é 5,00: "ai que absurdo". Resolvo escutar um chorinho, quando alguém diz que 22h é a hora que a alegria cessa, e é hora de violões, pandeiros, vozes e felicidade se silenciarem: "ai que absurdo".

Sabe, tem muita desimportância importando por aí. Neste momento, pessoas gritam qualquer coisa, uns nem se olham nos olhos. Hoje uma mulher me olhou nos olhos e disse: Você acha que eu minto?. Eu vi por ela a mentira dos meus. Quando acordo cansada, com sutis olheiras da minha joven vida, penso por onde o meu andar tá me levando. O que se pode fazer, meu bem? pega na minha mão e me carrega um pouquinho por aí, a ver passarinhos, a ver verdurinhas verdes, a sentar na graminha, a cantar bonitinho com mão passando na cabeça. Mais, e mais que isso, me leva um pouquinho a um esquecimento que dê passagem às minhas memórias gostosas e felizes da infância, quando eu roubava cenouras e couves na hortinha da escolinha. Ai que lugarzinho tão perto de mim.