terça-feira, 30 de setembro de 2008


Morra, “mãe suficientemente boa”, disse a menina em desespero ao ouvir o recado maldito de sua psique: “finge que está se arriscando, mas continue aqui com sua mãe suficientemente boa!”. Ela anda entendendo que deixar morrer o que tem que morrer é premissa. A menina sabe que é forte, intuitiva, corre por aí e quando percebe, já perdeu o medo da morte da “mãe boa”. Ela sabe que está só, assim mesmo ela corre. Vai em direção ao tambor e a tudo que ama, mas ainda é desconhecido. A intuição é rápida, percebe uma voz que canta “levanta povo, cativeiro já acabou”. Aquela boneca que a “mãe suficientemente boa” deixou pra ela em seu leito de morte, foi pra ela lembrar que embora essa mãe estivesse morrendo, ela continuaria em sua psique, sutil, como uma textura que poderia ser revivida dando o recado: você é sozinha nesta vida, vá viver com isso, me deixe morrer filha, não espere chegar ao abismo pra poder voar. A menina sentiu-se inteiramente pronta pra sair daquele colóquio simbólico, largar a teta e aprender a caçar.
Quando a caça começou, o sangue em suas mãos a apavorou e por um instante a “mãe suficientemente boa” veio em seu pensamento, aquela que pegaria suas mãos para limpá-la. Ainda assustada com o que o sangue provocou em sua psique e sem poder limpá-lo, sucumbiu ao tesão selvagem de envolver seus seios, seu ventre, sua boca e todo o seu corpo com essa liberdade. Foi tanta intensidade produzida por ela, tanto gosto com gozo e alegria que pareceu uma celebração à morte da “mãe suficientemente boa”. No entanto, a menina não quer nem ser presa e nem predador.



para mulheres que correm com lobos...

diante de você, “sem título”.
Qualquer coisa me escapa,
não sei.
De-repente, vira poesia incapturável.
Ebulição de muitos “qualquer coisa” em meu corpo.
A sombra real de alguém tão múltiplo
aparece encantadoramente perturbadora.
Assustada, corro dela.
O que eu não sei é que ela é eu,
e eu ela, meio desconexão simbiótica.
E que isso é assim, como tudo da vida.
Diante de você, “sem título”.
Uma política rebelde
que não deseja o código
o atravessa desde a infância.
Foice desgarrada de qualquer mão.
Com tantas “qualquer coisa”
risca o mundo,
e os desavisados
enlouquecem procurando uma cor só para os grafites.
De tão vaidoso,
vomita o feio em conto.
Seus sons inusitados
me deixam surda para o òbvio.
Diante de você,
“sem título”.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Ando naquele fase de querer despertencer. Eu queria usar o silêncio como estratégia. Os fluxos desejantes andam me atacando enlouquecedoramente e quando alguém me pede algum delineamento, geralmente eu invento e engano quase todo mundo. Sou das melhores fingidoras, vivo inventando sentidos e esclarecimentos. É um problema, sinto a vida como um "sujeito" mesmo. Dói, dói, dói, mas eu dou tanta risada, rio quase todos os dias e pela madrugada o susto me passa recados.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Tô meio pouca coisa,
perto de qualquer coisa,
alma apavorada,
imploro ser reinventada.
Tô meio tanta coisa,
longe de toda coisa,
arrepio no corpo,
esperança em fuga,
que risca meu sonhos.
Me falta ar pra respirar,
palavras pra dizer,
muita coisa pra inventar.

domingo, 7 de setembro de 2008


Foi assim que aconteceu...


Foi assim que aconteceu. O copo dela e o corpo dele, e a cópula deles. Tudo assim esteticamente intenso. Fumaram 2 maços de cigarro em 12 horas. Ela disse que nunca soube dizer se ele era realmente cego. Ela havia aprendido a guiar cegos durante a vida. Performances de cego, cones derrubados na faculdade. Agora vem pra perto, vem depressa vem sem fim, falava ela. Caminhada soberana. Queria fuder com ele e ele foi jogar vídeo game com o amigo. Homens às vezes parecem ser bezerros gritando mamãe e plagiando a mesma lógica caduca dos tempos dos nossos pais. Comecei a ficar com ele em todos os “hospitais”.
(entre umas e outras - pra você vi, o resultado daquela madrugada)

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

"o amor, sente-se" (pra poder cair)



O filósofo nos meus sonhos me indagou sobre como se vive o amor hoje em dia. Eu, curiosa para saber disso também, quis ser pós-moderna na resposta e disse que o amor se evidencia e se produz no encontro cotidiano com o outro, no toque, no compartilhamento das idéias, no carinho matutino e diurno, num café da manhã juntos e em se abrir para ouvir a solidão necessariamente humana de cada um sobre existir num "nada" tão estranhamente encantador e que, portanto, dizer "eu amo você" ou "está sendo muito feliz ficar junto com você" se tornou pouco importante se temos todas essas outras coisas. Disse a ele também que eu havia descoberto um amor assim, de quase nenhuma frase sobre esse encontro que eu vivia. E o filósofo, que era de uma zona da qual eu não imagino onde fica, me avisou "espalhe por aí, boatos de que ficarei aqui". Eu não entendi a pretensão dele em dizer isso, mas pensei que fosse melhor não me dedicar a isso, já que eu não passei me dedicando a entender o que eu vivia no meu amor dos últimos tempos, tão encantador, tão silencioso e cheio de intensidades que eu, pelo ato do outro a quem esse amor era dedicado e compartilhado, não ne deixava dúvidas de que vivenciava o mesmo. Lembro que alguém disse qualquer coisa sobre a alma do outro e era mais ou menos assim,"só se conhece a alma (penso que isso possa ser o introspectivo, o singular, a vivência solitária de cada um) pelas ações dela no mundo, por algum tipo de expressão que nos permita acessar essa solidão particular. Confiei nisso, talvez eu ainda confie, até porque dizer "eu amo você" "gosto de viver essas coisas com você que dá até vontade de fazer projetos juntos", pode não ser de fato sentido por quem diz...mas o império da fala diz que só falando é verdade, e eu super pós-moderna não reiterei isso, porque eu e o meu amor, parecíamos dizer e viver isso todos os dias, sem se quer enunciar com palavras...
Esses dias sentei para conversar com meu amor sobre nosso encontro, coisa que não havíamos feito até então, me assustei e fiquei curiosa. "nunca conversamos sobre nós, quero saber da gente, o que vc está sentindo?". Eu, ainda suspresa com a pergunta, respondi apreensiva, com um pouco dos encantamentos que estava vivendo e que consegui enunciar naquele momento com aquelas palavras. Ele, na sua vez, me disse que não se sentia envolvido comigo e que se entristecia com minha pouca percepção disso. Como se percebe o não envolvimento de alguém com você se o cotidiano que até então dividíamos era intenso no respeito, carinho, sem repressão e com "aparente" liberdade? não falávamos sobre isso...mas o amor não é isso? Como se ama alguém se não por essas nuances e trocas? como podia eu perceber que não estávamos nos encontrando na mesma intensidade se os atos eram óbviamente outros? Eu que sou tão pós-moderna e me coloco para viver as experiências atuais com liberdade e que me preocupei em ficar atenta para não reprimí-lo em nada de sua singularidade...
Eu sei que agora, vou até o filósoso da zona, que talvez ainda esteje por lá e direi a ele que hoje acredito "em tanta coisa que não vale nada"...
(desabafo é uma coisa que não se deve fazer análise, ele existe tal como é)

O grito tem mania de achar
que ajuda o mundo.
o grito é um covarde.
ele aparece, parece e some.
Todo desconfigurado,
rasga a boca dos calados.
esvoaça meus cabelos,
torce minha garganta.
dá um susto nos cegos de boa visão,
mas dança no ventre das mulheres.
Assalta e reaparece diferente,
eternamente diferente.
Parte por aí, longe de mim.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008


Conto os minutos pra acender o próximo cigarro,
café.
conto as horas pra escapar,
fecho a porta.
conto pra achar que sou ouvida,
viro entediante,
conto os dias pra voltar,
aventurar.
conto as linhas do poema,
pouca poesia.

"dançarina do céu"

Isso é a Dakini para mim, dançarina do céu, da vida, divindade feminina da meditação. Dizem que a luz do arco-íris é associada à meditação com as dakinis. E com elas que começo hoje a adentrar este universo onde eu posso e quero descrever reinventando todas as texturas inéditas ou não que atravessam meu corpo. Há muito tempo quero fazer isso, mas como disse uma amiga ontem, "há realmente coisas que estão esperando o momento de existirem", acreditei nisso.