quinta-feira, 4 de setembro de 2008

"o amor, sente-se" (pra poder cair)



O filósofo nos meus sonhos me indagou sobre como se vive o amor hoje em dia. Eu, curiosa para saber disso também, quis ser pós-moderna na resposta e disse que o amor se evidencia e se produz no encontro cotidiano com o outro, no toque, no compartilhamento das idéias, no carinho matutino e diurno, num café da manhã juntos e em se abrir para ouvir a solidão necessariamente humana de cada um sobre existir num "nada" tão estranhamente encantador e que, portanto, dizer "eu amo você" ou "está sendo muito feliz ficar junto com você" se tornou pouco importante se temos todas essas outras coisas. Disse a ele também que eu havia descoberto um amor assim, de quase nenhuma frase sobre esse encontro que eu vivia. E o filósofo, que era de uma zona da qual eu não imagino onde fica, me avisou "espalhe por aí, boatos de que ficarei aqui". Eu não entendi a pretensão dele em dizer isso, mas pensei que fosse melhor não me dedicar a isso, já que eu não passei me dedicando a entender o que eu vivia no meu amor dos últimos tempos, tão encantador, tão silencioso e cheio de intensidades que eu, pelo ato do outro a quem esse amor era dedicado e compartilhado, não ne deixava dúvidas de que vivenciava o mesmo. Lembro que alguém disse qualquer coisa sobre a alma do outro e era mais ou menos assim,"só se conhece a alma (penso que isso possa ser o introspectivo, o singular, a vivência solitária de cada um) pelas ações dela no mundo, por algum tipo de expressão que nos permita acessar essa solidão particular. Confiei nisso, talvez eu ainda confie, até porque dizer "eu amo você" "gosto de viver essas coisas com você que dá até vontade de fazer projetos juntos", pode não ser de fato sentido por quem diz...mas o império da fala diz que só falando é verdade, e eu super pós-moderna não reiterei isso, porque eu e o meu amor, parecíamos dizer e viver isso todos os dias, sem se quer enunciar com palavras...
Esses dias sentei para conversar com meu amor sobre nosso encontro, coisa que não havíamos feito até então, me assustei e fiquei curiosa. "nunca conversamos sobre nós, quero saber da gente, o que vc está sentindo?". Eu, ainda suspresa com a pergunta, respondi apreensiva, com um pouco dos encantamentos que estava vivendo e que consegui enunciar naquele momento com aquelas palavras. Ele, na sua vez, me disse que não se sentia envolvido comigo e que se entristecia com minha pouca percepção disso. Como se percebe o não envolvimento de alguém com você se o cotidiano que até então dividíamos era intenso no respeito, carinho, sem repressão e com "aparente" liberdade? não falávamos sobre isso...mas o amor não é isso? Como se ama alguém se não por essas nuances e trocas? como podia eu perceber que não estávamos nos encontrando na mesma intensidade se os atos eram óbviamente outros? Eu que sou tão pós-moderna e me coloco para viver as experiências atuais com liberdade e que me preocupei em ficar atenta para não reprimí-lo em nada de sua singularidade...
Eu sei que agora, vou até o filósoso da zona, que talvez ainda esteje por lá e direi a ele que hoje acredito "em tanta coisa que não vale nada"...
(desabafo é uma coisa que não se deve fazer análise, ele existe tal como é)

Um comentário:

Chiari disse...

Estranho! Permaneço na lógica das relações veladas, acho que estamos mesmo num momento onde não sabemos bem o que fazer com o discurso, mas estamos tentando, disso não podemos nos queixar!